Na terça-feira (10), em Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi interrogado no Supremo Tribunal Federal (STF), no processo que apura a tentativa de golpe após as eleições de 2022.
Durante a oitiva, seu comportamento foi cordial, por vezes até simpático. Uma transformação que remete à máxima do químico e filósofo Antoine Lavoisier: na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma — inclusive a postura de quem vê a cadeia no horizonte.
Bolsonaro, outrora inflamado, acusador e desrespeitoso, agora pediu desculpas a ministros que já ofendeu em praça pública. Negou golpe, negou responsabilidade, negou até ter convicções.
A retórica bélica foi substituída por rodeios calculados, piadas inofensivas e declarações evasivas. O mesmo homem que clamava por “intervenção militar” e incitava desconfiança sobre as urnas, agora diz que só expressava “desabafos” sem provas.
E quem já tachou Alexandre de Moraes de “canalha”, hoje o convida, em tom de brincadeira, para ser seu vice em 2026 — ano em que, ironicamente, está inelegível.
Lavoisier nos ensinou sobre transformações químicas, mas talvez não previsse com tanta precisão as reações humanas diante de processos penais.
A cordialidade tardia de Bolsonaro, se usada durante seu governo, poderia ter reduzido arestas institucionais e talvez evitado o desgaste que agora tenta remediar.
Mas o que se transforma por conveniência não se sustenta por convicção. E, como bem sabe a Justiça, há reações que não se anulam com um pedido de desculpas.
Quando a Justiça se aproxima, até o tom muda. Perfeita análise da virada de postura!