O Brasil registrou em 2023 o menor número de nascimentos em quase meio século, segundo levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa “Estatísticas do Registro Civil” mostra que foram contabilizados 2,52 milhões de nascimentos ao longo do ano, uma redução de 0,7% em relação a 2022. É o quinto ano consecutivo de queda.
Tendência histórica e envelhecimento da maternidade
A gerente da pesquisa, estatística Klivia Brayner de Oliveira, explicou que a tendência de redução deve ser analisada considerando os avanços nos registros civis. “Houve um tempo em que muitos nascimentos não eram registrados. Hoje, temos mais precisão, e mesmo assim observamos queda constante”, afirma. Além disso, 2,9% dos registros de nascimento feitos em 2023 (cerca de 75 mil) referem-se a pessoas nascidas em anos anteriores.
O levantamento aponta também uma mudança significativa no perfil das mães brasileiras. Em 2023, 39% das mulheres que deram à luz tinham mais de 30 anos, ante 23,9% em 2003. Entre aquelas com 40 anos ou mais, a proporção dobrou no mesmo período, passando de 2,1% para 4,3%. Ao todo, foram 109 mil nascimentos entre mães com 40 anos ou mais.
Já a maternidade na adolescência sofreu retração: 11,8% dos nascimentos em 2023 foram de mães com até 19 anos, contra 20,9% em 2003. As regiões Norte (18,7%) e Nordeste (14,3%) apresentaram os maiores percentuais de mães adolescentes, enquanto o Sul teve o menor (8,8%).
Diferenças regionais e números por estado
O Centro-Oeste foi a única região com aumento nos nascimentos em 2023, com uma elevação de 1,1%. Entre os estados com maior crescimento destacam-se Tocantins (3,4%), Goiás (2,8%) e Roraima (1,9%).
Em contrapartida, 18 estados apresentaram redução. As maiores quedas foram registradas em Rondônia (-3,7%), Amapá (-2,7%) e Rio de Janeiro (-2,2%).
Óbitos também registram queda
A mesma pesquisa revelou uma diminuição no número de mortes: foram 1,43 milhão de óbitos em 2023, o segundo ano seguido de retração. Em relação a 2022, a queda foi de 5% — ou 75,2 mil mortes a menos. O recuo ocorre após a forte alta observada durante a pandemia de Covid-19.
Os estados com maior redução nos óbitos foram Paraíba (-11,8%), Rio Grande do Sul (-10,2%), Rio Grande do Norte (-7,7%), Paraná (-7%) e Ceará (-6,7%). Apenas quatro unidades da federação registraram alta: Amazonas (2%), Amapá (1,5%), Mato Grosso (0,6%) e Acre (0,6%).
Leitura mais ampla
O IBGE aponta que o envelhecimento da população, o adiamento da maternidade e a menor fecundidade vêm contribuindo para uma desaceleração do crescimento populacional no país. Esses fatores, combinados, reforçam a necessidade de reavaliação de políticas públicas voltadas à infância, saúde da mulher e previdência social.