Bonecos reborn — esculturas hiper-realistas que imitam bebês recém-nascidos — têm chamado a atenção não só de colecionadores e redes sociais, mas também de parlamentares em diferentes estados brasileiros. Projetos de lei recentes em Minas Gerais e no Rio de Janeiro abordam o tema sob perspectivas que envolvem saúde mental, uso dos serviços públicos e até o reconhecimento simbólico das artesãs que os produzem.
Em Minas Gerais, o deputado Cristiano Caporezzo (PL) protocolou um projeto que proíbe o atendimento a bonecos reborn e outros objetos inanimados nas unidades públicas de saúde do estado. O parlamentar justificou a medida dizendo que o atendimento desses “brinquedos de madame” representa um desperdício dos recursos públicos e um risco para pacientes que necessitam de atendimento emergencial de verdade. Caso a lei seja aprovada, quem descumprir poderá ser multado em até dez vezes o valor do serviço prestado, com a arrecadação revertida para o tratamento de pessoas com transtornos mentais. Caporezzo criticou o que chama de “devaneios da sociedade contemporânea”, citando inclusive casos judiciais em que a “tutela” de reborns foi discutida em situações de separação e disputa de herança.
Já no Rio de Janeiro, o deputado Rodrigo Amorim (União) apresentou uma proposta para criar um programa de apoio psicológico a pessoas que desenvolvam vínculos afetivos com esses bonecos, buscando prevenir casos de depressão, suicídio e isolamento social. O projeto prevê acompanhamento multidisciplinar para evitar que o apego aos reborns evolua para uma dependência patológica, embora reconheça o valor terapêutico do boneco em situações como o luto perinatal.
Além disso, a Câmara Municipal do Rio aprovou o “Dia da Cegonha Reborn”, homenagem às artistas — chamadas de “cegonhas” — que confeccionam manualmente esses bonecos detalhados, com pele, veias e cabelos implantados fio a fio. A data, 4 de setembro, aguarda sanção do prefeito Eduardo Paes.
Os reborns conquistaram seguidores famosos e são frequentemente usados em vídeos que simulam cuidados maternos, o que tem levantado debates sobre os limites entre o brincar e o vínculo afetivo simbólico.
Enquanto isso, autoridades municipais e estaduais ainda não registraram casos de atendimento médico a esses bonecos no sistema público, e a questão segue em discussão no meio político e social.